Os penteados negros refletem a cultura negra. Trançar não é apenas um penteado protetor – é uma tradição passada de geração em geração por necessidade, uma oportunidade de cuidar e passar momentos valiosos com nossos filhos.
Aprendi a trançar por causa da minha avó e da Tia Jean. Não houve aulas formais de tranças, embora cada uma delas fosse uma “cabeleireira de cozinha” em sua própria maneira. Elas me ensinaram o contexto das tranças, que o Blue Magic e as divisões precisas eram indispensáveis. Elas me mostraram que trançar era uma forma de amor, e cada uma delas cuidava de mim, e por extensão, da minha mãe, que, sendo a última de quatro filhas, não era tão versada em cuidar dos cabelos. Elas me ensinaram que as tranças eram a base de tudo.
No último ano do ensino médio e, mais tarde, como universitária, horas de prática me separavam de um cabelo saudável. Passava dias praticando no meu dormitório, me perguntando por que minhas mãos não se moviam do mesmo jeito ou por que minhas tranças não ficavam tão firmes. Elas diziam que era tudo uma questão de firmeza no manuseio, do Blue Magic e de paciência.
Eu me perguntava se trançar era um investimento que algum dia eu dominaria. No segundo ano da faculdade, eu já sabia trançar, mas ainda não como elas. Não sabia que o tempo estava se esgotando – em alguns anos eu perderia minha avó e teria meu próprio filho. Dois anos depois, teria minha filha e perderia a Tia Jean.
Agora, moramos a 1.300 km de distância, e tenho dois filhos, cada um com texturas de cabelo únicas. Vivo em uma área com poucas pessoas negras, e sinto que trançar é, ao mesmo tempo, criação, cuidado e uma estratégia de sobrevivência. Meu marido desfaz as tranças, lava e hidrata. Eu faço o penteado. Falta o Blue Magic. Nem sempre consigo fazer as divisões certas sem um pente fino. Aprendi que as tranças são tão diversas quanto as perspectivas dentro das comunidades negras. O processo de dividir e hidratar o cabelo dos meus filhos é um momento de mostrar cuidado, conversar ou passar um tempo de qualidade juntos. Trançar – especialmente cornrows – é a base de muitos dos penteados que são importantes para nós. São uma lembrança nostálgica do verão da infância, a base para estilos transformadores como apliques, ou uma pausa em um penteado protetor.
E quando penso na minha avó e tia, não consigo deixar de considerar trançar como uma tradição materna. Embora a popularidade dos penteados negros como as tranças tenha explodido nas últimas três décadas, as tranças, com toda a sua diversidade de formas, são muito mais do que uma tendência estilosa. Há inúmeras opções com cornrows, tranças individuais ou uma mistura das duas, em diferentes tamanhos, localizações e variações de padrões. Os registros mais antigos de tranças na África têm milhares de anos. Durante esse tempo, as tranças se adaptaram para ser muitas coisas – evidência de afiliação tribal, um mapa para comunicar a jornada rumo à liberdade e, mais recentemente, uma forma de abraçar a negritude e um estilo protetor pronto para o uso. A diversidade das tranças as manteve relevantes em diferentes contextos sociais. Mas elas permaneceram como evidências de cuidado e maternagem.
Assim como as tranças sempre tiveram um significado mais profundo do que apenas serem um penteado, isso ainda é verdade. Para muitos, inclusive para mim, trançar é uma oportunidade de transmitir conhecimento entre gerações. Lembro-me de sentar em um travesseiro no chão, entre as pernas da minha avó, ouvindo histórias de mundos distantes e sendo incentivada. Busco fazer o mesmo com meus filhos – meu filho no chão, fazendo uma quantidade infinita de perguntas, assim como eu fazia com sua bisavó.
Trançando para Autoimagem
“Minha mãe trançava com a mão por baixo, mas eu trançava com a mão por cima porque sou canhota,” diz Sierra Bowman, esposa de militar e mãe de dois filhos que atualmente mora em Las Vegas, Nevada. Para Bowman, saber trançar foi essencial para se adaptar em lugares onde os cabeleireiros não conseguiam atender às necessidades do seu cabelo. Uma cabeleireira me disse: ”Não estou acostumada a trabalhar com cabelo colorido.'” Para Sierra, trançar se tornou uma maneira de ganhar dinheiro, criar laços com outras pessoas negras e cuidar dos cabelos da sua família. de sua família.
Bowman conta que cresceu em uma casa multigeracional com sua mãe, avó e, ocasionalmente, sua tia. Cada uma tinha um papel, e, apesar dos momentos de instabilidade devido à presença de doença mental não tratada em sua família, sua mãe era quem trançava. No entanto, por volta dos 15 anos, Bowman queria estilos negros mais alternativos e modernos, o que sua mãe não aceitava.
“Eu não concordava com os rótulos que ela dava aos meus estilos, como ‘brega’ e ‘exagerado’, então aprendi a trançar para fazer os estilos que eu gostava,” conta Bowman. Hoje, ela está trabalhando para criar um ambiente familiar estável e com liberdade de expressão para sua filha Alex, de 8 anos, e já introduziu os fundamentos da trança. “Não vou passar isso para a minha filha,” afirma Bowman, destacando que permitirá que Alex experimente cores e estilos. Ela já sabe como aplicar tranças e twists com uma agulha de crochê, ajudando sua mãe no processo.
Conectando Através das Tranças
Ashley J. May, mãe de dois filhos em Los Angeles, Califórnia, sempre sonhou em aprender a trançar, mas a textura do seu cabelo tornava o processo complicado. Mesmo assim, ela enxerga as tranças como parte essencial de sua identidade. “tenho na lembraça a minha bisavó materna sempre usando uma trança. Ela tinha o cabelo parecido com o meu e fazia a mesma trança todos os dias,” relembra May. “Minha mãe trançou meu cabelo uma vez quando eu era criança, porque minhas amigas com cachos mais apertados faziam tranças, e eu queria me sentir incluída,” conta ela, mencionando que suas tranças não seguravam bem e que seu couro cabeludo acabava queimando ao sol.
May começou a treinar tranças no cabelo de sua prima bebê e, mais tarde, no cabelo de seu segundo filho, que tinha cachos mais definidos. Ela revela que adoraria continuar trançando, mas agora que seus filhos cortaram o cabelo, perdeu essa oportunidade.
De acordo com a Dra. Donna Oriowo, terapeuta e fundadora da Annodright, trançar o cabelo de uma criança vai muito além da questão estética. “O cabelo pode ser uma parte fundamental da identidade, e o ato de trançar ajuda os pais a nutrirem essa identidade,” explica. “É um momento para reforçar a beleza da criança, especialmente em um mundo onde, infelizmente, enfrentarão discriminação em uma sociedade que muitas vezes não valoriza a diversidade da beleza negra.”
Oriowo enfatiza que, quando o cuidado com o cabelo é feito com atenção, ele contribui para uma autoimagem saudável e positiva ao longo da vida. “As palavras e mensagens dos adultos ao redor delas acabam se tornando sua voz interior, guiando como elas se enxergarão e se tratarão no futuro.”
Alexandria White, mãe de três filhos em Dallas, Texas, recorda que sua mãe trançava seu cabelo regularmente em “dookie braids” e que aprendeu a trançar brincando com suas bonecas. “Minha mãe era uma enfermeira muito ocupada, e o fato de ela dedicar tempo para trançar nosso cabelo mostrava que ela queria estar presente conosco,” conta White. Já adulta, ela praticou trançar nos cabelos de seus filhos gêmeos, mas não imaginava o impacto que isso teria na autoimagem deles.
“Me recordo dos meus filhos falando: ‘Quero ter o cabelo como o da mamãe’ ou ‘Quero um cabelão igual ao da mamãe!, entendi que assumir meu cabelo natural e autêntico era importante não só para mim, mas também para eles.”
Trançar como uma Oportunidade de Conexão Igualitária
Sean A. Williams é o fundador da The Dad Gang, uma organização que busca celebrar, apoiar e redefinir a paternidade negra. O que começou como um esforço para garantir que sua filha estivesse sempre bem-arrumada, mesmo quando a mãe não estivesse por perto, se transformou em uma oportunidade enriquecedora de conexão. “Eu não ia sair com o cabelo da minha filha desarrumado, então o modo papai entrou em ação e fiz o que precisava ser feito,” ele conta. “Na verdade, isso se tornou uma oportunidade incrível de fortalecer o vínculo entre mim e minha filha. E, por mais difícil que fosse apertar aquelas tranças, eu gostei do processo e estava ansioso para aprender mais.”
Williams acredita que muitas pessoas – especialmente pais – entendem o cuidado com o cabelo como uma “responsabilidade da mãe.” Ele desafia essa visão. “É nosso dever como pais garantir que nossas filhas sejam cuidadas em todos os aspectos, incluindo sua aparência,” diz ele, incentivando outros pais a tentarem, mesmo que pareça desafiador.
Afinal, trançar é tanto sobre cuidar e fortalecer a identidade e o senso de comunidade de nossos filhos quanto sobre a arte de entrelaçar fios de cabelo com precisão.
Crédito: Com conteúdo de Parents .
Mãe, esposa e empreendedora, ela transforma suas experiências em inspiração para ajudar mulheres a cuidarem dos cabelos com amor e praticidade.